Manual para pessimistas convictos
Hoje me deparei com um pedido de ajuda de uma amiga “Acordei triste, me animem aí” e me fez pensar em todas as vezes que me senti triste nesses últimos tempos. Quem é mais próximo de mim sabe que não andei muito legal esses meses que se passaram, mas o foco aqui não é falar sobre a tristeza que não sinto pra chamar de “profundo”. Talvez seja um “Manual para pessimistas convictos”. Tá aí, um bom título pra esse texto. (embora não seja nada original)
A algumas semanas parei pra pensar de onde é que nasce o sentimento que vamos chamar de “tristeza”. Sendo bem “teóricozinho”, o que não gosto muito de ser, lembrei de um texto do Fabiano da Costa:
“A tristeza é um sentimento próprio do homem que provoca no indivíduo um estado de infelicidade perante algum fato, isto é, é uma consequência interna de causa externa.”
Fico um tanto quanto perplexo quando paro pra pensar na influência do externo, sim, somos seres sociais. Praticamente nos sentimos um reflexo do que nos dizem que somos e nos sentimos capazes de fazer, muitas vezes, somente o que nos dizem que somos capazes. Oscar Wilde nos contou que “o rio esperava Narciso para poder se enxergar pelos olhos do pobre garoto” (algo assim). O que me faz pensar que grande parte do problema de olhar pra si mesmo é que fica complicado entender o que se “é” quando não se pode se olhar de fora. E, como a vida é um baile de mascaras, você trata pessoas de momentos diferentes (trabalho, bar, escola, … ) de maneiras diferentes. Então ainda que eu tente me ver pelo reflexo do outro, qual “você” ele está mostrando?
Mas acho que as coisas partem de um certo nível de angústia. Aí voltamos novamente as definições
An-gus-tia sf: Grande ansiedade ou aflição; Ânsia, agonia
Acredito eu, e eu não sou ninguém (viu, isso sempre volta), que grande parte dessa “tristeza” cotidiana venha dessa ansiedade de querer “ser” algo. De provar pro mundo que somos capazes de algo. E o aspecto social volta sempre. A partir de que momento as coisas que eu faço são direcionadas para mim, pra minha própria existência, para minha própria necessidade? E pra mim chega a um ponto de questionamento de “quando tempo passo sendo eu para mim”?
Mas, sendo mais profundo em questionamentos, onde é que nasce esse descontentamento com a vida, com o viver? Acredito que seja nesse lugar que realmente nascem as “inseguranças”, em conjunto com a famosa crise do impostor. Onde eu realmente me considero não sendo bom o suficiente perante tudo aquilo que me disponho a fazer. O grande problema é que quando me disponho a pensar sobre “eu”, eu mesmo não me reconheço naquilo que me forma como “eu”. Não me conheço, somente passo tempo pensando na “minha humilde existência” quando estou “triste”. E se me olho só nesses momentos, é praticamente impossível chegar a um “decreto” de que faço algo de produtivo.
É difícil se achar “foda” quando você se olha no espelho e só enxerga “você”.
Pode sempre parecer ruim ficar sozinho, pois você não se considera uma boa companhia pra si mesmo. Por pior que esse momentos possam ser, se você só consegue conversar consigo nesses momentos, você tem que aproveitar ao máximo. Não, isso não é uma ode ao autoflagelamento, é você de frente com você. Carregando o próprio peso da “sua existência”. E se não existe uma fórmula mágica pra sair da pior, a única maneira de viver dentro de si talvez seja abraçar seu próprio vazio. Acredito que assumir aquilo que se “é” ou aquilo que se “pensa ser” já pode ser um bom caminho pra entender o que te destrói por dentro, o que gera essa ansiedade macabra que te frustra a cada momento.
Talvez passando mais tempo com você mesmo, sem máscaras, sem pudor, até sem roupa se for possível, fazendo aquela única coisa que você sabe que suporta fazer e aproveitar o silêncio do mundo, seja algo que possa te ajudar a ser capaz de acordar todos os dias e lembrar que embora existam todos outros por aí, com suas qualidades e defeitos, só você pode ser você. E se você não estiver disponível para seu próprio “eu” talvez ninguém esteja disponível, nunca.
E é isso, não tem catarse, não tem uma super lição de como me tornei mais feliz, nem uma super dica pra se apaixonar por si mesmo. Tem momentos, como esse, em que só conseguir suportar o peso de viver já faz com que sejamos capazes de dar um pequeno passo pra frente e entender que embora existam pessoas, exista um sistema, existam relacionamentos, a todo momento o vazio, o abstrato, a famigerada “bad” vai ter que ser carregada pelo (parafraseando Kafka) ser desconhecido que é você pra si mesmo.
E como diria David Foster Wallace: Desejo a vocês muito mais do que sorte