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Blog do Dunossauro

Eu Piro Quando Voce Passa

Em meados de 2011 eu fazia escola técnica na Etec e lembro de escutar essa música do Pablo Dominguez todos os dias no mesmo horário enquanto estava no ônibus.

Uma das coisas que mais demorei para me acostumar quando mudei para o interior de São Paulo foi o rádio. Sim, eu ouvia muito Nova Brasil FM. Um costume um pouco incomum que acabei adquirindo com a minha mãe. Sempre fui do Hard Core e ouvia muito punk rock também, mas toda vez que eu buscava um pouco de paz eu ligava na nova brasil. Inclusive, estou fazendo isso agora.

O que é um pouco estranho é que a programação não mudou muito nesses 7 anos longe de casa. Longe de eu achar isso ruim, claro, tem muitas coisas nessas músicas, nas vinhetas, que eu não saberia explicar o quão fundo elas tocam. Mas geralmente tenho feito isso nas madrugadas e escutar rádio de madrugada é uma coisa complicada. Claro, existem madrugadas e madrugadas, mas para quem tem insônia, as madrugadas costumam ser mais melancólicas que o normal. Esse simples ato de ouvir rádio me remete a uma infinidade de pensamentos diferentes. Lembro que, quando eu era mais novo, costumava ouvir rádio deitado na laje e ficava olhando as estrelas. Várias vezes eu me perguntava se alguém poderia estar fazendo a mesma coisa que eu. Caso estivessem, como elas estavam se sentindo ouvindo aquela mesma música que eu, vendo o mesmo céu que eu?

Quando eu era mais novo, eu adorava passar noites e mais noites em claro. Assistindo shop time, aqueles programas que mostram as mãos das pessoas vendendo joias, canal do boi. Não sei, mas alguma coisa na madrugada me chama atenção. Lembrei que fazia essas coisas comendo arroz com farofa. Um gosto bem peculiar, para ser bem sincero. Mas essa era minha vida. Eu escrevia muito no meu antigo fotolog nessa época. Uma pena que, quando o fotolog foi descontinuado, eu não quis fazer o backup deles. Mas tem dias que gostaria de lembrar o que estava sentindo. Perdi tudo :/. Mas confesso que só depois da terapia eu comecei a dar mais valor a tudo isso.

Eu deveria escrever mais, mas, ao mesmo tempo em que morro de medo de falar para as pessoas como eu me sinto. Me dá um caderno, um editor em branco, para ver se eu não saio escrevendo. Toda essa relação com textos, com o meu íntimo, sempre foi turbulenta. Morreria sete mortes antes de deixar ver algo sem sentido, como isso que estou escrevendo agora. Que fala sobre mim, sobre as minhas lembranças malucas e não dizem nada a ninguém. Mas o tempo passou tão depressa que não pude entender melhor essa fase da minha vida. Eu me jogava de um namoro em outro, com pessoas que foram muito importantes e das quais tenho boas memórias e grandes aprendizados. Que ficaram para trás como se não fossem nada hoje em dia. Engraçado, para não dizer outra coisa. Eu era um babaca, jovem, mas ainda assim babaca.

Isso me remete a um segredo íntimo, falei sobre isso com poucas pessoas, mas isso vem dessa época da minha vida. Eu lembro de passar semanas ouvindo “Maresia” na versão da Adriana Calcanhotto. “aaaahh se eu fosse marinheiro” e eu pensava em ser o marinheiro do asfalto. Tá, mas o que tem de segredo nisso? Acho que foi por isso que nunca tirei carteira de motorista. Lembro de uma frase do meu pai: “Um dia eu pego esse carro e vou até o fim da BR-116 pra ver onde acaba”. Isso ficou tão fixado na minha cabeça. A BR-116 ficava muito perto de casa. Eu cresci do lado da saída dela em direção a Curitiba.

E eu passei um tempo com essa ideia, arrumar um trabalho qualquer, juntar uma grana e só sumir. Ir até o Uruguai. Viajar só a noite ouvindo nova brasil FM. Sim, por anos eu só quis isso. Parar onde desse e seguir viagem. Mas pra quê? Qual o objetivo? Foi por isso que nunca tirei carteira de motorista. Eu tenho medo de mim mesmo. Quero fugir, mas tenho medo. Só não pensava que, ao fugir, eu ia ter que carregar o meu pior inimigo. Eu mesmo.

Com o tempo, nada mudou. Eu fugi para o interior, falo pouco ou quase nada com a minha família e amigos e vivo em um mundo paralelo de mim mesmo. Às vezes isso custa caro emocionalmente. Faz tempo que não vejo meu irmão, faz tempo que não vejo minha irmã. Meu primo, então, a pessoa que era minha melhor amiga, fez o mesmo. Porra Gabs, eu sinto sua falta às vezes. Mas sempre que penso no Gabriel, eu penso que todas as pessoas das quais eu fugi porque achava que a resposta era fugir.

Toda vez que eu fujo, deixo um buraco e toda vez que ligo o rádio de madrugada, eu passo horas pensando nesses buracos. Por que eu sempre vou embora e deixo tudo pra trás? Por que faço isso todas às vezes? Quando é que eu vou parar?

Por que raios eu liguei o rádio hoje mesmo?



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